Aqui em Catalão/GO, existem algumas represas. Uma delas é conhecida como Represa Clube do Povo. Nessa represa, diariamente, pessoas caminham, correm, se exercitam em aparelhos públicos de ginástica, jogam futebol ou vôlei na areia, andam de skate etc.
Além disso, é um local indicado àqueles que gostam de piqueniques em família e apreciam belezas naturais. As famílias de capivaras que ali moram são uma atração à parte.
Certa vez passei por ali com o meu filho mais velho. Ele observou que ao redor da represa existem placas informando que é proibido pescar no local. No entanto, inúmeras pessoas desobedecem a tal restrição; algumas delas, inclusive, pescam ao lado dessas placas. Meu filho me perguntou: por que essas pessoas fazem isso?
Não sei como responder. É uma pergunta complexa, embora não pareça. Pensei inicialmente em dizer-lhe que as pessoas pescam ali, mesmo sendo proibido, porque, sem fiscalização, elas fazem o que bem entendem. Mas não me pareceu uma boa ideia. Essa resposta não educa e nem explica o real problema em análise.
Passei por lá mais algumas vezes e tentei observar melhor os infratores. Constatei um fato curioso, alguns deles usam modernos equipamentos de pesca e pescam por diversão, enquanto outros usam equipamentos rudimentares (gambiarras engenhosas) e pescam a próxima ou, talvez, sua única refeição do dia.
Eu me pergunto quem a polícia puniria caso flagrassem esses infratores. Certamente prenderia aquele que pesca para sobreviver, para matar a fome.
Em certa medida, o ser humano está fadado a cometer crimes e infrações. Mas há quem apure, julgue e condene os outros sem observar que comete os mesmos erros. Todos têm telhado de vidro, mas aqui vale a máxima hipocrisia da sociedade materializadas nos ditos populares “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço” ou “a oportunidade faz o ladrão”.
Aproprio-me da canção Quatro Vezes Você, do Capital Inicial, para me dirigir àquele que se traveste de cidadão de bem. Então, Hipócrita!
“[…] O que você faz quando
Ninguém te vê fazendo
Ou o que você queria fazer
Se ninguém pudesse te ver […]”
Nossa sociedade é estranha e complexa. Nesse caso em particular, enquanto uns desobedecem à restrição porque podem –– e fazem isso ao seu bel-prazer; outros o fazem porque precisam sobreviver. Contudo, a restrição é explícita e por razões óbvias deve ser obedecida: É PROIBIDO PESCAR.
Texto e Foto: Franciolli Araújo
Revisão: Nelson Almeida