O velho candeeiro desperta visões da minha infância, quando, aos finais de semana, visitava o sítio que meus avós moravam.
O medo do grande cão vira-latas que nos saudava na porteira tão logo cruzávamos o mata-burro, cujo nome só fiquei sabendo do significado depois de adulto, paralisava a criança de três para quatro anos.
Nem todas as lembranças, contudo, são visuais. Parece que o candeeiro só as desperta.
Ao pensar nele, lembro-me do rein-rein do balançar da rede; do cheiro da comida cozinhada no fogão à lenha; da conversa dos adultos na varanda; do cheiro de fumaça e da fuligem deixados pelo candeeiro encostado na parede, queimando seu pavio embebido em querosene.
O velho candeeiro de latão também me remete às histórias de assombração, contadas e recontadas pelos adultos como a mais pura verdade. Histórias que deixariam, pelo menos em dúvida, qualquer investigador, dada as semelhanças nos relatos das “testemunhas” oculares, que muitas vezes presenciavam as manifestações das visagens.
A luz do candeeiro era a única coisa que nos mantinha afastados dos terrores da noite: afastava o bicho-papão e mantinha as assombrações na penumbra.
Essa é só uma história, escrita à luz do velho candeeiro.
Imagem em destaque: Candeeiros por Franciolli Araújo.
Bené da Flauta Restaurante & Café. Ouro Preto/MG
18 de novembro de 2015.