Novo cofre

Numa manhã de outubro
Do ano dois mil e vinte.
Um certo Senador,
Homem de muito requinte.
Abriu sua porta e passou mal
Quando viu que a Federal
Cumpriria a Constituinte.

O Senador se apressou
Em dizer: “sou inocente.
Sou um homem religioso
E, a Deus, muito temente.
Não tem prata e não tem ouro.
Para Deus o maior tesouro
É a fé de um crente.”

O delegado sorriu
E estendeu-lhe a mão.
Mostrou-lhe um documento
E falou com educação:
“Vim aqui cumprir a lei e,
portanto, ordenarei
uma busca e apreensão”.

Ao ouvir essas palavras
O Senador peidou azedo,
Pois logo revelariam
O seu grande segredo.
Ainda quis ficar enfezado,
Mas lembrou-se do ditado:
“Quem tem cu tem medo”.

E o medo foi tão grande
Que o peste perdeu a fala.
Foi saindo de fininho,
Se esgueirando pela sala.
Na cueca de helanca
Sua bunda de potranca
Era grande feito mala.

“Que bunda fela da puta!”
Disse o agente Tunico.
E o Senador prendendo
Cinco mil só no butico.
Foi andando devagar
Como quem não quer cagar
E prende a bosta no furico.

Mas o delegado Arnóbio,
Homem muito educado,
Conduziu o Senador
A um lugar reservado.
E após averiguação
Constatou que o cidadão
Estava todo cagado.

No meio a fedentina
Havia grande quantia.
Muitas notas de duzentos
Que ao povo pertencia.
Eram os agentes juntando,
O delegado enguiando,
Foi grande a agonia.

O Senador foi detido.
Aquele cabra de peia.
Mas em breve estará livre
Pra nossa vergonha alheia.
Pois quem engana a nação,
Não merece o perdão.
E sim, morrer na cadeia

“Não percamos a magia”.
Disse o palhaço Onofre.
Que sempre leva alegria
A essa gente que sofre.
E quando lhe foi perguntado
O nome do Senador safado,
Respondeu: “Bunda de cofre”.

Imagem de Alexas_Fotos por Pixabay 

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