Eu me sentei à luz do candeeiro para refletir sobre alguns sentimentos básicos. E saiba, os sentimentos não são básicos e refletir sobre eles não é um exercício muito fácil.
Primeiro porque não costumamos falar de nossos sentimentos. Quando falamos, normalmente, é para algum psicólogo ou psiquiatra e aí já somos taxados por nós mesmos ou pela sociedade como pessoas com problemas. Nos esquecemos que problemas todos tem, e não nos damos conta que falar sobre eles funciona como toxinas que vão se acumulando e aos poucos nos matando.
Particularmente, acredito que falar sobre sentimentos é um pouco subjetivo, uma vez que o melhor seria dizer expor os sentimentos, pois isso incluiria por exemplo, fazer uma pintura, escrever, socar um saco de pancadas. Tudo isso seria uma forma de expor. Talvez funcione.
Em segundo lugar, expor os sentimentos é particularmente mais difícil para quem cresceu sem dar a devida importância para isso. Creio que muitas pessoas cresceram assim. Isso com certeza justificaria a quantidade de sequelados emocionalmente em nossa sociedade. Sequelados que, seguindo a máxima do oprimido que tem a chance, passa a comportar-se como opressor.
As vezes eu falo dos meus sentimentos. Uso jogos de palavras para exprimir o que sinto, sem contudo, deixar evidente. O desejo é que a exposição não seja tão exposta. Qual a razão disso? Acho que não sou bom em expor, sentimentos. Nunca fui.
E isso gera uma inquietude que faz tremer a alma. Quando me olho no espelho, por vezes não reconheço quem veste a pele, pois eu queria ser herói e vez por outra sou vilão. Me perco em mim mesmo, as vezes um mar insondável, e fujo eu mesmo de crompreender-me.
Acredito saber minhas aspirações, mas elas parecem sempre estar em conflito com as das pessoas que me cercam, ou pelo menos, não sei, não estão sempre em harmonia.
Suas boas ações, nem sempre são reconhecidas, mas os seus erros são apontados com veemência e regozijo. Mas isso deve ser somente reflexo da natureza sádica do ser humano.
Não é fácil ser eu. Não é fácil conviver comigo. A essência humana ou é complexa, ou ao longo de nosso desenvolvimento enquanto criaturas, nos levaram a crer nisso.
Sentimentos são complexos. Nossa natureza incompreensível. Somos complexos acordes de uma sinfonia tocada à exaustão, cada um de nós, em uma infinita cacofonia.
Sigo acreditando, que essa incapacidade de expor esses sentimentos, externalizá-los em palavras, também é capaz de nos fazer sentir sozinhos, indefesos, incapazes. E então somos sugados para aqueles mundos sombrios, onde toda notícia nos deixa de ansiosos, onde nossos pensamentos vagueiam pleos mais escuros lugares, contaminados por algum agente corruptor que visa tão somente a nossa alma.
Expor os sentimentos passa a ser então imprescindível, indispensável e urgente.
Vou apagar o candeeiro. Já deu a hora de dormir. Que os sonhos me permitam falar sobre o que me define, e permita também que os velhos demônios sejam destruídos e destravem aquele pedaço que insiste em ficar na escuridão, mesmo com tanta luz daquele lado.
Imagem de Stefan Keller por Pixabay