Meu país na 25 de Março

João Figueira de Melo é um João da rua.
Mora na Vinte e Cinco de Março onde pessoas
passam num vai e vem infernal.
O dia está terminando, e João anônimo.
Quando muito, as pessoas confundem seu cheiro
com o de lixo.
–– Nossa que horror! Essa cidade está cada vez pior.
João tem um papelão, uma calça rasgada, uma camisa
rasgada, um par de tênis rasgado e um olhar perdido.
Não se sabe ao certo a idade desse esquecido filho da nação.
Às vezes ele sorri para ninguém, outras vezes senta-se
pensativo na guia da calçada.
João está faminto, mas ninguém o vê.
Ele está com sede, ele quer comer.
Chega, por fim, o pôr do sol.
Cansado de ser anônimo, João levanta-se desnudo e
sorri loucamente.
O coitado é enxotado, xingado, vociferado…
Ele tenta correr, mas ao atravessar a rua morre atropelado.
Pobre João, continua anônimo.
Mas agora encontrou a paz.

Imagem de Kasun Chamara por Pixabay 

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