O escritor

Inúmeras vezes comecei a rascunhar e quando meia dúzia de palavras já se encontravam no papel, percebia que não faziam sentido. Amassava aquele conjunto de ideias, jogava o papel no lixo e então começava a escrever novamente.

Engraçado que as ideias pulavam na cabeça, querendo libertar-se, mas ao que parece, não era no papel que elas queriam ser aprisionadas. Elas queriam ser livres, vagar por aí com toda a liberdade de uma ideia que se torna mais do que uma ideia.

E esse processo demorou, tanto que o chão ficou repleto de folhas semi rabiscadas, ideias mal acabadas ou simplesmente não completamente elaboradas.

Fogo-fátuo do pensamento. Arrastando o incauto pseudo-pensador para os perigosos pântanos da falta de imaginação. Sim, pois suas mal traçadas linhas não fariam sentido, pois a ideia caótica se manifestava de forma aleatória quando forçada no papel. Era como naquelas vezes que queremos dizer oi, e dizemos tchau.

Naquele campo se travava uma batalha de gigantes. De um lado, o gigante da persistência, que se forçava a transpor ideias em palavras. Do outro lado o gigante das ideias, que se negava a ser enclausurado na forma de linhas.

E quem ganharia?

Então o pensador parou. Resolveu retirar-se momentaneamente do campo de batalha. Recolheu cada uma das ideias mal traçadas e quando ia colocá-las no lixo, percebeu uma coisa curiosa: as ideias que ele considerava caóticas, pareciam ter um padrão. Então, o estalo.

Caóticas não eram as ideias, era o seu desejo de escrever qualquer coisa, por razão qualquer, papel fútil a que as ideias não queriam se prestar. Elas estavam em frenesi, queriam falar sobre suas verdades, mas estavam sendo manipuladas para contar uma história que na verdade não era a delas.

O pensador então sentou-se, respirou fundo e deixou que as ideias o conduzissem e não contrário.

A caneta conduzia as ideias para o papel, como uma corrente elétrica conduzida pelo fio, e elas se retroalimentavam, e transfiguradas, as ideias contaram sua história e nela, mundos inteiros surgiam, levando o pensador a viajar, sem sair do lugar.

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