Papel pautado

Guardo esses textos para mim, como se fossem escritos em papel pautado, em cadernos antigos, esquecidos em um canto qualquer, e cujas páginas já começam a amarelar.

Aqueles cadernos que quando encontramos, folheamos por minutos em busca de páginas rabiscadas, e cujos textos, muitas vezes sem contexto, nos obrigam quase que inconscientemente a arrancar aquelas anotações e lançar aquelas páginas ao fogo, como se fossem contaminar nossas “novas” ideias.

Esses textos me são caros, até que abandone novamente o caderno, esqueça-o em algum lugar por alguns anos, e volte a encontrá-los e a repetir o funesto ritual, até que não sobrem mais páginas amareladas pelo tempo.

Eu guardo esses textos para mim, com o zelo do coveiro que joga a última pá de terra sobre o corpo que esfria, e eles viverão para sempre em minha memória, até que daqui a dois minutos não consiga me lembrar de nenhuma palavra que escrevi.

Esses textos não são Fênix. Não renascerão das cinzas, geradas pela queima do papal pautado que queimei. Nem são palavras ao vento. Nem foram escritas em pedra, muito menos em água.

Como me são caros esses textos, pois encerram parte do que preciso para manter a sanidade. Talvez a mantenha assim, escrevendo e queimando. Fazendo as ideias encerradas nas pautas do papel transitarem para o limbo, onde reina o vazio.

Algumas ideias precisam ser incineradas. Mantidas no frio e vazio vácuo. Longe da possibilidade de concretização de ações insanas.

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