Surgimento

I

Meus poemas nascem como nascem os sertanejos, sob a luz turva do candeeiro
Gritam em partos difíceis
Respiram ofegantes
Ganham vida lentamente
Alimentam-se de mim

II

Meus poemas voam como voam as aves de rapina no sertão
Descem ferozes e certeiros
E me cravam suas garras
E me rasgam a pele
E me cortam a carne
Mas esta dor é vital, é necessária

III

A verdade é que minto
Não sei como nascem os poetas e seus poemas
Sequer me apercebo quando surgem os meus poemas
Sei que eles crescem
E se rebelam, e gritam, e querem mudar o mundo
Depois pedem socorro
Envelhecem com o poeta sob falsos julgamentos e más apreciações
Depois o consideram sábios
O poeta para de sofrer
Mas os poemas só serão eternos quando o poeta morrer


Nelson Almeida
São Paulo, 29 de fevereiro de 2020
15h34min

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