Quando as conexões eram reais

As redes sociais foram concebidas, pelo menos em discurso, para conectar pessoas, mas a realidade é muito diferente.

As reuniões de amigos não são mais como antes. Antigamente, reuníamos na casa de amigos para ouvir música, conversar, tomar um refrigerante – minha turma sempre foi composta por abstêmios – e claro, falar sobre amores.

Hoje, nossos encontros sociais são estranhos, para dizer o mínimo.

A primeira coisa que dizemos deixou de ser “boa noite, tudo bem com você?” passando a ser “e aí? qual a senha do wifi?

No decorrer da noite, conversamos mais no WhatsApp e Facebook do que com as outras pessoas que estão ali. Postamos dezenas de fotos no Instagram para que todos saibam onde estamos e o que estamos fazendo.

Sorrimos muitas vezes apenas como um ato mecânico na hora da foto, quando também arrumamos o cabelo e fazemos biquinho.

Lembro das festas na casa da Adriana, onde nos reuníamos e ouvíamos, a contragosto de todos os homens que estavam ali, as músicas do Bon Jovi, cuja letra “This Ain’t A Love Song” me sequelou para sempre.

Nesses encontros ríamos verdadeiramente. Éramos felizes e sabíamos. Compartilhávamos nossos momentos tristes e tínhamos um ombro amigo. Compartilhávamos nossos momentos alegres e tínhamos com quem comemorar. Não havia distrações. Estávamos verdadeiramente conectados.

Quando viajamos, só olhamos para a janela quando a viagem é interrompida. Caso não seja, fixamos os nossos olhos na telinha do smartphone ou tablet e nos perdemos em um mundo de mensagens, vídeos e memes, a maioria deles, com o imenso potencial de nos desconectar de quem está próximo de nós.

Se cai a conexão, esquecemo-nos de olhar pela janela. A paisagem não nos interessa. Não existe mais beleza no percurso. Ficamos mal humorados, e como uma criança pensamos “o que é que eu vou fazer agora?

Sinto-me cada vez mais desconectado. Sozinho na turba, mas também sou parte da massa.

Sinto falta das festas na casa da Adriana. Penso nelas com saudosismo. Mesmo as músicas do Bon Jovi seriam bem vindas, em nome do resgate do simples, da conexão real, que ligam as pessoas, muito mais do que a tela sensível de um smartphone que nos torna cada vez mais insensíveis.


Imagem em destaque: Instalação “In Silence” por Chiharu Shiota.

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