Umas lembranças da infância

O infeliz da costa oca era um galalau da família dos Oliveira (perna fina corredeira), que morava na frente da casa de mainha. Sua mãe, dona Neuza, comadre da família, era daquelas mulheres grandes, um amor de pessoa, desde que não pisassem no seu calo.

De sua casa, do outro lado da rua, não era incomum ouvir os gritos da gasguita “Fila de uma égua. Volte aqui bixiguento“, acompanhado do zunido das alpercatas voando pela rua, em tempo de acertar o quengo do infitete.

E foi assim nossa infância, naquela cidade do interior do Rio Grande do Norte.

Naquela época, aperreio era assar sacas de castanha e descascar tudo à mão, comendo o máximo que desse com a certeza de uma dor de barriga.

Era a arenga de traquinos, que sem ter o que fazer, zoavam toda a vizinhança. Televisão só tinha na casa do vizinho e não fazia diferença a cor dos Changeman, pois a TV era preto e branco.

Na rua tinha também a velha cachimbenta, que inspirava medo nos moleques todos, e que tinham o maior medo de deixar a bola cair em seu quintal.

No final da rua, tinha uma casa onde comprávamos leite, onde dois cachorros gigantes metiam medo em qualquer um que se aproximasse.

Na rua tinha de tudo. Tinha o senhor que a esposa dizia “esse veio passa o dia sem fazer nada, não empurra um prego num mamão maduro“.

E tinha até gente famosa, corredora de atletismo que virou referência nacional.

E na outra rua tinha a bodega, que ainda vendia pão em papel de enrolar prego, onde eu fazia o trajeto puxando por uma corda meu carrinho de lata azul.

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